Caldas se movimenta para não receber mais lixo radioativo

Executivo vai pela segunda vez à sede da INB em busca de um posicionamento da empresa. Em visita à CNEN, a busca é por acesso aos laudos técnico das vistorias na INB de forma que o município tenha ciência das condições do armazenamento do material radioativo na unidade.

Esta é a segunda visita do prefeito de Caldas, Ailton Goulart, à sede das Indústrias Nucleares do Brasil, desde a notificação recebida pelo município de Caldas, sobre o envio de cerca de mil toneladas de rejeitos radioativos, conhecidos como Torta II, que viriam da unidade de Interlagos para Caldas.

A unidade de Interlagos passa por processo de descomissionamento e o material em questão seria enviado para a unidade desativada da INB de Caldas porque aqui há uma grande quantidade destes resíduos já armazenados em um galpão.

A reunião na sede da INB, no Rio de Janeiro, aconteceu no último dia 14/10 e quem abriu a conversa foi Rogério Carvalho, um dos diretores, engenheiro de minas. Para entrarem na sala, foi determinado que todos os celulares dos membros da comitiva de Caldas fossem deixados de fora.

Rogério afirmou que ainda não há decisão definitiva em relação ao destino do lixo radioativo da INB. Ele afirmou que os tambores de resíduos radioativos em Caldas estão armazenados de forma segura e procurou passar tranquilidade.

O prefeito Ailton se posicionou deixando clara a sua indignação pela retenção dos celulares da comitiva. “Tanto na vida pública, quanto privada, nunca passei por uma situação como esta. Seja no gabinete ou no meu escritório não tenho nada a esconder, por isso não preciso proibir a entrada de nenhum celular.” Afirma ele.

“O assunto a ser tratado é de extrema importância, por isso aceitei essa situação, mas foi muito desrespeito.” Completa ele, que seguiu com a pauta.

O prefeito questionou o cancelamento da reunião e visita técnica na unidade de Caldas que havia sido agendada e foi desmarcada pela empresa. Segundo os diretores, outros compromissos importantes tomaram a agenda. Mas virão em breve e avisarão a data para que caldenses possam acompanha-los.

Questionou também o fato de a empresa ter passado por uma vistoria do Sipron (Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro), sem que representantes do município tivessem sido comunicados ou convidados a acompanhar. Os diretores da INB disseram que não tiveram controle sobre esta agenda. E que a mesma foi organizada pelo próprio Sipron.

Mais uma vez a INB foi cobrada pela falta de transparência e diálogo com Caldas. Os diretores prometeram melhorar a relação de comprometimento com o município e citaram a intenção de incluir Caldas no seu orçamento de projetos de assistência à saúde em um futuro próximo.

Sobre o descomissionamento da unidade, proposto anteriormente, Diógenes Salgado Alves, gerente de descomissionamento descreveu que nos anos entre 2003 e 2016 a INB possuía recursos para dar andamento neste processo, mas pouco foi realizado e atualmente a empresa não possui orçamento suficiente para realizar muitas ações neste sentido. No entanto, Diógenes anunciou que pela primeira vez foi instituída na empresa uma Comissão para viabilizar o descomissionamento desta unidade. Segundo ele, pela primeira vez também foi contratada uma empresa terceirizada especializada para monitoramento da barragem de rejeitos e dos galpões de armazenamento de Torta II em Caldas.

A comitiva de Caldas deixou claro que não poupará esforços para seguir cobrando o comprometimento da empresa em relação ao seu sítio no município e que não aceitará receber mais rejeitos radioativos.

 

A agenda seguiu com reunião na CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear

No dia 15, o destino da comitiva de Caldas no Rio de Janeiro foi a sede da Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Representando Caldas, estavam nesta reunião o prefeito, Ailton Goulart, o procurador geral do município, Luiz Claudio Luchini, a Secretária de Meio Ambiente, Ianka Oliveira e o vereador Ivan Palhares.

Representando a CNEN estavam Cassia Helena Lima, chefe de gabinete, Jeferson Borges, coordenador Ciclo Combustível, que também participou da audiência pública para discutir a questão do lixo radioativo em Caldas na Assembleia Legislativa do Estado. Dra. Vania Moreira, procuradora chefe, Madison Coelho de Almeida, diretor de pesquisa e Desenvolvimento e Ricardo Gutterres, diretor de Radio Proteção.

Frente a todos os questionamentos de Caldas em relação à segurança do material radioativo que está armazenado no sítio da INB no município, foram apresentados os seguintes posicionamentos:

  • A CNEN afirmou que não há pedido protocolado pela INB solicitando o transporte de material radioativo para Caldas até o momento. E que caso venham a formalizar a solicitação, não é algo simples de se conseguir porque existe um processo amplo e longo para se obter tal autorização.
  • A Comissão explicou que possui um laboratório exclusivo para monitoramento do sítio da INB, localizado em Poços de Caldas, com dois funcionários que monitoram toda a unidade semanalmente. Estes profissionais têm como função acompanhar a unidade de Caldas de perto e monitorar os níveis de radiação na área total, incluindo a Torta II e as minas d’água no sítio.
  • Afirmou-se que atualmente a INB não comporta receber mais material para ser armazenado, a menos que sejam feitos novos investimentos.
  • Ficou acordado que os funcionários do laboratório local farão uma visita técnica na unidade da INB juntamente com os representantes da CNEN e de Caldas em data ainda a ser agendada, provavelmente em novembro.