Prefeito municipal cobra transparência e representantes da INB comparecem na audiência realizada na câmara de vereadores da cidade. A INB afirma que ainda não definiu pra onde vai a Torta II que está na área urbana de São Paulo.
A audiência pública realizada neste dia 20 de outubro de 2021, na Câmara de Vereadores de Caldas foi mais uma iniciativa do município no sentido de impedir que mais rejeitos radioativos sejam enviados para a unidade desativada da IndústriasNucleares do Brasil, localizada a 18 quilômetros do centro da cidade.
Diógenes Salgado Alves, superintendente de descomissionamento da INB foi quem fez a apresentação técnica e apresentou as condições do sítio em Caldas. Segundo ele, não existe ainda a certeza de que os rejeitos radioativos que serão removidos da unidade em descomissionamento em Interlagos virão para Caldas. No entanto, a empresa está investindo em várias melhorias nesta unidade.
Segundo ele, os controles da estrutura e dos níveis de radiação são feitos constantemente, por equipetécnica experiente e com expertise para garantir a segurança do local, e há investimentos no sentido de aumentar o isolamento dos tambores de Torta II, o mesmo tipo de rejeito que será removido de Interlagos e que estão armazenados em um galpão em Caldas.
Houve muita indignação na fala de todos os demais presentes que tiveram a palavra. O pedido por mais transparência por parte da empresa foi unânime, uma vez que a INB não havia fornecido relatórios dos controles da empresa ao município até então.
Foi solicitado também que o processo de descomissionamento, com a remoção do material radioativo que está no local ocorra de fato. E que o município seja compensado pelos anos de exploração, além, obviamente, que não seja enviado mais nenhum tipo de rejeito radioativo para o sítio em Caldas.
Segundo Diógenes, o descomissionamento da unidade levaria décadas e envolve ações que vão além da questão financeira, passa por engenharia e licenciamentos para que o local seja entregue para uso da sociedade. No sítio estão a cava da mina, que tem cerca de 1 km de extensão, duas barragens com água onde o urânio era processado e os galpões onde 12 mil toneladas de Torta II estão armazenadas. O engenheiro afirmou que 75% deste material radioativo está em Caldas e 4% em Interlagos. “O que temos estocado hoje não é lixo, em algum momento pode ser utilizado”, disse ele.
Entre todas as manifestações, as únicas falas em defesa da empresa vieram dos representantes da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), órgão regulador que realiza as inspeções na INB.Os técnicos da empresa ocupam um escritório localizado em Poços de Caldas e inspecionam localmente o sítio. “A CNEN é responsável por todo o processo regulatório complexo da vida das instalações da INB”, afirmaram os técnicos que disseram ainda não ter recebido o pedido de transporte dos equipamentos e materiais radioativos de Interlagos para Caldas.
Durante a audiência foram ouvidas muitas pessoas, todas cobrando responsabilidade e transparência por parte da INB.
Entre elas, destacamos a presença de Luiz Cláudio Luchini, procurador do município de Caldas; o prefeito de Caldas Ailton Goulart, que fez questão de lembrar que há 40 anos existe a promessa do descomissionamento desta unidade da empresa, no entanto nada foi feito neste sentido, além do que o descaso da empresa em relação ao município é total. “Estamos investindo pesado para alavancar o turismo em Caldas, a mídia negativa que a INB nos traz é extremamente prejudicial.”, afirmou ele.
Os deputados federais Newton Cardoso Jr., Emidinho Madeira e Padre João se manifestaram através de seus assessores.
Moradores dos bairros próximos à unidade da INB também foram ouvidos.
O primeiro suplente de deputado estadual, Ulisses Guimarães, ex-prefeito de Caldas, lembrou que o descaso e a negligência da empresa com o município é algo que se arrasta e que seguirá se movimentando para evitar que mais dano seja causado.
Representantes das cidades de Andradas, Ibitiúra e Poços de Caldas também manifestaram sua indignação e declararam apoio a Caldas.
Também discursaram contrários à INB, representantes do CODEMA(Conselho Municipal de Defesa, Conservação e Desenvolvimento Ambiental); da Aliança em Prol da APA da Pedra Branca; do Sindicato dos trabalhadores da Indústria; do Conselho da APA da Pedra Branca; dos professores do município; da tribo indígena Xucuru Kariri; da Articulação AntinuclearBrasileira e todos os vereadores do município de Caldas.
Em suas considerações finais, o representante da INB Diógenes Salgado Alves pediu credibilidade. “Para quem viu o passado e se frustrou, queremos pedir credibilidade em relação a esta direção. Não podemos ser culpados por ações não tomadasanteriormente”, comentou ele, que firmou o compromisso de transparência e manutenção do diálogo com o município.
O executivo por sua vez confirmou que o diálogo é sempre a melhor opção, mas deixou claro que não cederá na decisão de lutar em todas as instâncias para que Caldas não receba qualquer quantidade adicional de material radioativo.